Cá em baixo

“Os pássaros voavam no céu, como se voassem num mundo mais justo. Corriam nesse mundo só de claridade, nesse céu. Voavam felizes. As nuvens ainda mais acima, mais longe de tudo, mais perfeitas, eram pequenas manchas brancas a mostrar que a lonjura do céu é tão infinita. Cá em baixo, a terra, este mundo e dezenas de pessoas talvez preocupadas, a mexerem-se sen saírem do lugar. Passava uma aragem pelos campos, pelas pedras, pelas moitas, pelas ervas miúdas, deslizava pela superfície da barragem. Lá muito ao fundo, o sol quase tocava o cabeço do outro lado da barragem. A luz estendia-se pelas águas, pela terra, e batia naquela multidão inquieta, e estendia-lhes as sombras sobre a terra. Estendia-lhes o desassossego.”

[Cal, José Luís Peixoto]

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