O meu reino por uma casa

Não sei há quantos anos falamos da crise da habitação, mas parece que há temas que são recorrentes desde que comecei a trabalhar. Por exemplo, um dos primeiros trabalhos que fiz apresentava a “última” solução para o novo aeroporto de Lisboa, na OTA. Lembro-me de filmar com interesse a maquete apresentada, escutar os argumentos para a localização, etc. Mas eu já entrei décadas depois desta discussão começar e ela ainda decorre. Hoje já só consigo revirar os olhos com mais uma proposta.

A habitação é outro tema que apenas parece agravar-se. Parece que os nómadas digitais e a web summit acentuaram todos os problemas, mas lembro-me de um trabalho que fiz, já não sei precisar quando, mas penso que terá sido nos anos da troika. Uma pessoa com quem me tinha cruzado num convívio de amigos uns tempos antes, de repente passou a ser um dos protagonistas num trabalho sobre habitação. Tinha-se mudado para a margem sul e deixara de aparecer. Contou que a distância o fechou na sua rotina. Deixou de ser visto e acabou por ficar esquecido. A viagem já não era tão fácil e tinha custos que ele não podia acumular.

Claro que há milhares de pessoas que vivem na margem sul e que fazem o percurso até Lisboa todos os dias e mantêm a sua rotina e têm os seus amigos. Mas foi aquela disrupção que mudou tudo.

Lembro-me dele quando vejo tantas pessoas questionarem porque é que as pessoas precisam de morar em Lisboa. É claro que ninguém pode querer isso. Hoje são luxos para o estrangeiro. Espero que ele tenha conseguido, entretanto, encontrar a sua comunidade.

Leave a comment