Ali, sentada na sala ao lado, ela ouvia-lhes os gritos, o ódio e o desespero nas vozes. Era algo que se repetia de tempos a tempos, como um ciclo vicioso que acaba sempre por voltar ao ponto do meio. Era o ciclo da sua vida. E por isso nada podia fazer para o contrariar. Lembrava-se de outras discussões, iguais, há uns anos atrás e já antes disso.
Ânimos exaltados. Insultos exagerados, desnecessários. Encontrões. Dois corações que se destroem com tanta facilidade porque se conhecem tão bem.
E ele não ia mudar. Sabia-o isso, como sabia ser o seu dever testemunhá-lo. Por isso continuava ali, na sala ao lado, sentada ao computador, fingindo ignorar a vida enquanto esta lhe gritava por uma reacção.
Quem poderia negar-lhe este momento? Quem duvidaria que, enquanto na sala ao lado os dois corações se destruíam, o seu gritava por dentro um grito de revolta, de inconformidade, de tristeza?